Tadáskía

noite dia

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A Sé Galeria apresenta a primeira exposição individual da artista Tadáskía. noite dia reúne uma série de obras recentes, algumas inéditas, em diversos formatos, incluindo desenho, pintura, fotografia, escultura e vídeo. A mostra terá abertura no dia 2 de abril, sábado, das 11h às 19h, na sede da galeria, na Vila Modernista de Flávio de Carvalho, nos Jardins. A exposição tem curadoria de Clarissa Diniz.

 

noite dia é fruto da primeira viagem ao exterior feita pela artista. Com o suporte da Sé, Tadáskía participou, no início do ano, da residência Homesession, em Barcelona, onde começou a experimentar com spray em tecido, resultando em obras localizadas no entremeio do desenho e da pintura. O deslocamento também permitiu à ela uma mudança de percepção em relação ao próprio trabalho. “Em um lugar é dia, enquanto em outro é noite. As coisas mudam dependendo do lugar, a imaginação muda”, pondera. “Conforme onde estamos, pode existir transformação na forma, na cor, na linha.” Nos novos trabalhos, há um aspecto relacionado ao acabamento e à noção de finalização, uma relação incisiva com o tempo.  “As coisas não acontecem de uma hora para outra, mesmo que para as pessoas pareça acontecer”, explica. “Elas podem apenas imaginar o que ocorre no meio, no ínterim, e não têm como saber o final daquilo que se coloca como uma passagem.”

 

Sua produção pode ser agrupada no que a curadora Clarissa Diniz chamou de “famílias”, conjuntos de obras com características semelhantes, mas que diferem no ritmo da “animação”, a movimentação de um grupo para outro, em que se relacionam o diferente e o parecido. À artista interessa apresentar a ânima das coisas, em procedimento situado entre a figuração e a abstração.  Outro conceito chave para entendermos sua obra é o de “aparição”, palavra escolhida por ela para tratar de sua produção fotográfica. A aparição acontece quando a artista ou os grupos com ela reunidos estão diante da câmera analógica. É o ato de revelar, em que a imagem pode ou não sair como planejada. Há aqui um elemento de indeterminação.

 

noite dia apresenta a ampla prática poética da artista. Além dos desenhos em tecido inéditos, Tadáskía apresentará uma pintura a óleo feita, sem esboço, diretamente sobre as paredes da galeria. A cor, cujo uso foi estimulado dentro de casa, a partir do incentivo da mãe e da tia, tem papel preponderante neste trabalho. No filme ayé (2020), palavra da cosmogonia iorubá entendida como mundo, o desenho salta do papel para o corpo e para o chão da casa. A obra é uma colaboração da artista com sua mãe, Elenice Guarani. Vestindo estrelas (2019) traz novamente mãe e filha em um registro fotográfico inspirado no Quarto de despejo, da escritora Carolina Maria de Jesus. As esculturas arranjo (2019-2022) reestruturam peças feitas com palha de taboa, comumente usada em rituais afro-brasileiros. Em Linha dourada (2012-2022), as cascas de ovo costuradas com linha indagam sobre a impermanência, afinal são corpos orgânicos que, com o tempo, irão se transformar ou desaparecer. Outro destaque é a aparição Olha o passarinho (2020), em que a família da artista posa para um retrato com os olhos revirados para cima. No entendimento de Tadáskía, família não diz respeito somente à consanguinidade, abarcando também amigas e amigos e pessoas que se relacionam entre si. “Assim como nos desenhos, os grupos vão sendo criados, alguns se separam, outros se juntam”, ela explica. “É muito raro eu fazer algo único. Não se trata, contudo, de trabalhos seriados, tem a ver com ritmo, com grupos que criam ritmo entre si.”

 

A ideia de mudança é central na produção da artista. Para Clarissa Diniz, Tadáskía é uma artista atenta às transformações. Não apenas ao que muda, mas à potência do contínuo transformar-se; ao que vai, volta e muda de direção; à circularidade, às espirais e tangentes. “Para se lançar à força da transformação, o desenho tem sido sua principal companhia”, explica a curadora. “Cores, pastéis, pós, lápis, esmaltes ou pincéis têm sido aliados num desenhar que é uma pulsante e experimental coreografia de transformações que se dão no papel, na cor, na linha, na imagem, no corpo, no espaço”. Tadáskía desenha para transformar e transforma desenhando. Seus traços fazem figuras se transmutar, papéis se tornarem céus, as palavras borrarem seus próprios sentidos. “Seu corpo é também potência de transformação de sua espraiada e heterogênea relacionalidade: por meio de aparições, performances, vídeos, fotografias, testemunhamos os corpos que a atravessam e que a constituem mudarem suas posições ontológicas e marcadores sociais, enquanto a própria artista transiciona e põe tudo o mais para girar com ela”, prossegue a curadora. “Ao fazê-lo, esgarça a paixão e o compromisso que seu desenhar tem com as formas para o campo do político e do racial, dando a ver que desenhar para transformar é também um modo de redesenhar a forma do mundo tal como hoje o conhecemos, transtornando-o”.

 

Serviço

 

Tadáskía: noite dia

Curadoria: Clarissa Diniz

 

Abertura: Sábado, 2 de abril, das 11h às 19h

Visitação até 11 de junho

Terça à sexta, das 12h às 19h, sábado, das 12h às 17h.

 

 

Sobre a artista

 

Tadáskía (Rio de Janeiro, 1993) vive e trabalha no Rio de Janeiro e em São Paulo. Antes conhecida como max wíllà morais, é artista, trans, escritora, graduada em Artes Visuais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (2016), mestra em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2019-2021) e bolsista na Escola de Artes Visuais do Parque Lage em Mediação (2014) e no Programa Formação e Deformação (2019-2020). Seus trabalhos de desenho, fotografia, instalação, costura e aparição se fazem por histórias, geografias e as relações materiais e imateriais que podem surgir entre o mundo e as coisas vivas. Elabora também experiências visíveis e invisíveis a partir da afro-diáspora e dos encontros tanto familiares quanto incomuns. Tadáskía foi indicada ao prêmio PIPA em 2020 e expôs na galeria A Gentil Carioca, no Museu de Arte do Rio, Paço Imperial do Rio de Janeiro e, ao lado de Leonilson, no espaço de arte Auroras, em São Paulo. Foi educadora do Museu de Arte do Rio (2014-2017) e colaborou com o Instituto Maria e João Aleixo em Pesquisa, Educação e Culturas em Periferias (2018-2020). Em 2018 estreou com Diambe da Silva “A poeira não quer sair do Esqueleto” (2017), documentário experimental exibido na Argentina, Brasil, Uruguai, Sibéria, Emirados Árabes e Índia, entre outros lugares.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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