Brisa Noronha

Os ossos do mundo

 

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Desde 2015, Brisa Noronha estuda sistemas complexos a partir das ideias do físico-químico russo naturalizado belga, Ilya Prigogine (1917-2003 ). Segundo ele, para superar a crise causada pela separação dos saberes e lidarmos melhor com o caos, a incerteza e a imprevisibilidade, a saída seria “escutar poeticamente a natureza, a matéria que o cientista faz falar”. A artista procura observar como através da repetição de padrões simples, é possível o surgimento de comportamentos complexos.

O uso da porcelana em esculturas caracterizadas por uma aparente fragilidade, pelas formas orgânicas e pela impressão do gesto no material, aparece nesta exposição como resposta ou manifestação tridimensional que se desenvolveu a partir da pintura. Noronha diz que a pintura como ponto de partida na exposição foi mais do que uma escolha metodológica: se deu por conta das limitações impostas pela pandemia e a consequente falta de acesso ao material necessário para produzir as esculturas em porcelana.

Segundo a artista: “Optei pela porcelana pelo interesse sobre a questão da delicadeza, característica intrínseca a esse material. Com ela aprendi que é justamente por ser extremamente dura e resistente, que é possível ser tão fina e translúcida, e, com isso, passar a ideia de algo delicado. Mas também sabemos que a porcelana é mais dura que o concreto, e isso comprova que a delicadeza não é sinônimo de fraqueza, e sim o contrário. É por ser extremamente resistente que pode ser tão delicada. Enfim, penso na dissociação da dupla, delicadeza-fragilidade e, no lugar, exploro a associação entre delicadeza e resistência”.

Importante ressaltar que Brisa Noronha é uma artista que não parte de ideias ou projetos pré-concebidos, e sim do fazer intuitivo, do embate constante com o material que serve como agente ativo capaz de responder e propor caminhos, formas e temas. Seus trabalhos são produzidos com poucas ferramentas e uso de técnicas primitivas como rolinhos, cordas e placas, deixando o material se expressar sem intenção de dominá-lo.

Já as pinturas apresentadas em Os ossos do mundo combinam um conjunto diretamente baseado no universo cinematográfico do diretor russo Andrei Tarkovsky (1932-1986) e outras que tomam como ponto de partida as fotografias pessoais da artista.

Em um primeiro momento, a artista decidiu rever a obra do cineasta russo por admirar sua capacidade de ordenar minuciosamente os objetos em cena e de construir atmosferas únicas. Para Noronha, revisitar a carreira do diretor a fez perceber que toda sua obra é pautada por temas existencialistas, primordiais e filosóficos, entre eles: espiritualidade, religião, vida, morte, exílio, sacrifício, loucura, amor, catástrofes, iminência do fim, desenvolvimento da ciência e ficção científica, esperança, tempos não lineares e roteiros que entregam uma sensação muito específica, quase desconfortável, mas compartilhada pelo público, o que considera extremamente atual dado ao contexto que vivemos.

Para a autora do texto da exposição, Kiki Mazucchelli, a obra pictórica de Noronha compreende os gêneros da paisagem e da natureza morta. “Ambas exploram, ainda, os vazios e as essências das formas, em composições esparsas que prescindem da figura humana e do conteúdo narrativo. São trabalhos que sugerem a prospecção da origem das formas que são a expressão de alguns dos instintos e impulsos mais fundamentais da espécie humana: criação, abrigo, morte entre outros”, finaliza.

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