Pontogor

Ver como anda o mundo sem os olhos

abertura
29/05/2021
das 10–15h

visitação
29/05 à 21/08/2021
de terça a sexta das 12h às 19h
sábados das 12h às 17h
ou com agendamento

 

 

Para além das tensões e contradições perceptíveis e mensuráveis – apresentadas aos olhos dos espectadores sob a forma de pôsteres, esculturas, vídeos, instalações e objetos –, o trabalho de Pontogor mira agudamente tensões outras: aquelas invisíveis, suprassensíveis ou que ao menos exigem observação metódica, interessada ou científica para serem notadas. Derivadas de dinâmicas tanto físicas como sociais, essas tensões são encenadas materialmente em obras que impõem um parâmetro específico de aferição e medição: o corpo humano.
Na exposição Ver como anda o mundo sem os olhos, que ocupa a Sé Galeria, a exigência de uma percepção corporal (visual, sonora, tátil e mesmo olfativa) rigorosa e detida aparece fundida à mobilização do campo verbal, ou seja, implica uma concepção do observador de arte como um leitor – de imagens, sons, texturas (e mesmo odores) mas também de palavras. Como se destinadas ao toque e ao manuseio, ao uso prático e ao jogo, as palavras escritas – inscritas em frases lapidares – operam de modo análogo ao uso saturado e extremado da cor preta. Esse uso do preto opaco e matérico tem também valor de negação – emanando, como ato abertamente antipictórico, da matéria-prima industrial (da cera escura usada na réplica escultórica de um braço; do piso emborrachado que constitui uma peça de “tapeçaria”; do tecido de um casaco pendurado na parede, tal um antiparangolé; do papel de uma série de gravuras).
Em conjunto, postos sob uma dinâmica de contrastes de pretos saturados e brancos sujos, palavras e objetos, frases e imagens mobilizam um estado de reflexão constante, crítico, em que Virgílio, Freud, Thomas Mann, René Daumal, Pauline Oliveros e Davi Kopenawa releem o noticiário político e são relidos de volta.
O enunciado ver como anda o mundo sem os olhos – que remete ao título do vídeo apresentado na exposição – resume esse uso das palavras escritas, com seus ecos cegos mas audíveis, que atuam como forças físicas – e que informam, tateantes, sobre o andamento do mundo.

Gustavo Motta

 

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Jardim Paulista

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