Davi Rodrigues

A minha arte é sobre destino, afirmação e pertencimento; experimenta e se afirma onde eu vivo e está em sintonia com o cosmo, equilibrando o carnal e o espiritual. Busco entender e traduzir o significado de estar nesta terra e neste tempo. Vejo a pintura como uma forma de convívio que nos eleva a uma nova compreensão de mundo. Estamos todos juntos dentro da tela.

 

A obra de Davi Rodrigues (Cachoeira, Bahia, 1968) é indissociável da experiência de ter nascido e viver às margens do Rio Paraguaçu, na cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano. Seus desenhos, pinturas, gravuras, esculturas e escritos retratam as personagens, tradições e lendas — além da flora e da fauna —, da vida ribeirinha de uma região de enorme influência africana e notável riqueza cultural. Figura pública de muitas facetas e extremamente ativo nas esferas social, cultural, política e espiritual da cidade, Davi produz um trabalho de grande relevância para a história e a memória de sua comunidade. Ele é o autor de uma espécie de arquivo pictórico das vivências no Recôncavo: pinta sua aldeia mirando o universal.

Davi nasceu em frente à casa do grande ator negro Mário Gusmão, na Rua dos Artistas, onde vive até hoje. Na década de 1970, iniciou no desenho e na pintura por estímulo de sua tia Ziza. Na Fundação Hansen Bahia, foi aluno da artista e professora Noelice Costa Pinto, tendo aprendido com ela os segredos da xilogravura. Sua produção atual explora a pintura acrílica sobre papel no que chama de "coleções", séries sobre temas diversos como brincadeiras de crianças; máscaras carnavalescas; santos e orixás; bichos e frutas do Recôncavo. Davi é criador de uma linguagem própria, marcada pela exuberância visual de cores, traços e pontos, a qual um de seus conterrâneos deu o nome de "davidismo". Trata-se de uma abordagem bastante particular da técnica pontilhista, em que as imagens são traçadas, desenhadas, pintadas e retraçadas, através de pincéis, estilete e das próprias mãos.

Participou de dez edições da Bienal do Recôncavo (Centro Cultural Dannemann, São Félix, 1993-2013), tendo sido artista homenageado na XI edição do evento; integrou a exposição coletiva À Nordeste, com curadoria de Bitu Cassundé, Clarissa Diniz e Marcelo Campos (SESC 24 de Maio, São Paulo, 2019) e expôs individual e coletivamente em Salvador e diversas cidades da região, além de São Paulo, Rio de Janeiro, Montpellier (França) e Girona (Espanha). É autor de 4 livros, todos produzidos artesanalmente, e fundador do evento coletivo e itinerante Varal das Artes. Ministra oficinas de criação artística para crianças da rede pública; participa como convidado em atividades promovidas pela Universidade Federal do Recôncavo e sua obra tem sido objeto de estudos acadêmicos. É Doutor Honoris Causa pela Faculdade Formação Brasileira e Internacional de Capelania e a Ordem dos Capelães do Brasil (2022). Sua primeira exposição individual na Sé, A evolução do picolé, foi realizada na galeria em 2023. Vive e trabalha em Cachoeira.

 

***

 

My art is about destiny, affirmation, and belonging; it experiences and asserts itself where I live and is in tune with the cosmos, balancing the sensual and the spiritual. I seek to understand and translate the meaning of being on this earth and at this time. I see painting as a form of living together that elevates us to a new understanding of the world. We are all together inside the canvas.

 

The work of Davi Rodrigues (Cachoeira, Bahia, 1968) is inseparable from the experience of being born and living on the banks of the Paraguaçu River, in the city of Cachoeira, in the Recôncavo Baiano. His drawings, paintings, engravings, sculptures, and writings portray the characters, traditions, and legends — in addition to flora and fauna — of riverside life in a region of enormous African influence and remarkable cultural richness. A public figure of many facets and extremely active in the city's social, cultural, political, and spiritual spheres, Davi produces work of great relevance to the history and memory of his community. He is the author of a kind of pictorial archive of the experiences in the Recôncavo: he paints his village with an eye to the universal.

Davi was born near the house of the great black actor Mário Gusmão, on Rua dos Artistas, where he lives today. In the 1970s, he began drawing and painting under the encouragement of his aunt Ziza. At the Hansen Bahia Foundation, he was a student of artist and teacher Noelice Costa Pinto, having learned the secrets of woodcutting from her. His current production explores acrylic painting on paper in what he calls "collections," series on several themes, such as children's games; carnival masks; saints and orixás; animals, and fruits from the Recôncavo. Davi is the creator of his language, marked by the visual exuberance of colors, strokes, and dots, which one of his fellow countrymen named "davidism". This is a very particular approach to the pointillist technique, in which images are traced, drawn, painted, and retraced, using brushes, a stylus, and his own hands.

He participated in ten editions of the Bienal do Recôncavo (Centro Cultural Dannemann, São Félix, 1993-2013), and has been awarded in the XI edition of the event; he integrated the group show À Nordeste, curated by Bitu Cassundé, Clarissa Diniz and Marcelo Campos (SESC 24 de Maio, São Paulo, 2019) and exhibited individually and collectively in Salvador and several cities in the region, besides São Paulo, Rio de Janeiro, Montpellier (France) and Girona (Spain). He is the author of 4 handmade books and founded the collective and traveling event Varal das Artes. He gives art workshops to children from the public school system and usually participates in activities promoted by the Universidade Federal do Recôncavo. His work has been the subject of academic studies. He is Doctor Honoris Causa by Faculdade Formação Brasileira e Internacional de Capelania e a Ordem dos Capelães do Brasil (2022). His first solo show at Sé, A evolução do picolé, was held at the gallery in 2023. He lives and works in Cachoeira.