Brisa Noronha
Pinturas, instalação, teatros

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Este conjunto de trabalhos, mais diretamente as telas, tem como ponto de partida um interesse da artista por observações de processos de microscopia; são uma reflexão de como a imagem “típica” do microscópio está presente em nosso imaginário e em diferentes escalas na natureza. Durante sua pesquisa de mestrado, Brisa realizou um trabalho com o Prof. Caetano Miranda, pesquisador do Instituto de Física da USP. Neste processo, aprendeu que as imagens microscópicas provenientes de técnicas como Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET) e Espectroscopia por Energia Dispersiva (EDS) são, na verdade, indiretas: as estruturas minúsculas que visualizamos são impossíveis de ver com o olho, já que não existe resolução ótica para isto. Assim, as imagens são formadas indiretamente, a partir do espelhamento do feixe de elétron pela superfície da mostra, no caso da MEV, ou espelhamento do raio X, no caso da EDS, resultando em um mapa que possibilita observar como os elementos químicos se encontram na amostra analisada. Tal descoberta a fez cogitar se estas imagens não seriam sistemas abstratos de representação, em que o resultado de alguma forma já está pré-definido quando são definidas as regras desta lógica de interpretação de dados, questionando o que entendemos e acreditamos ser a verdade/realidade versus o que entendemos como imaginação/ficção — contudo, segundo a ciência, essas imagens não são esquemas abstratos.

Dessas divagações surgem também os “teatros” de porcelana, as esculturas e a instalação, que realiza a partir da fricção entre referências do mundo real e imaginário. A instalação e as esculturas da série “Linhas de animação” são provenientes da vontade de levar para a escultura a linha do desenho, de experimentar o arame de latão como a linha dinâmica que estrutura a obra. Ao incorporar o arame de latão, Brisa traz um elemento de liberdade e movimento, lembrando desenhos mais soltos. As formas das esculturas se relacionam também com outros temas de interesse da artista, como representações de situações de nutrição, ciclos de vida e morte e organizações sistêmicas.

Brisa Noronha (Belo Horizonte, 1990) vive e trabalha em São Paulo. Atualmente cursa mestrado em Poéticas Visuas na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP). É Bacharel em Comunicação Social pela PUC São Paulo (2015) e em Artes Visuais pela Faculdade Santa Marcelina (2015). Em 2017 recebeu bolsa do programa Freedom to create, da residência artística Arteles, Finlândia. Em 2015 foi premiada no 22o Salão de Artes Plásticas de Praia Grande, em São Paulo. Seu trabalho consiste em instalações, pinturas, vídeos e fotografias nos quais a artista pesquisa experimentalmente diferentes materiais e possibilidades de dispor e ordenar objetos produzidos e colecionados. Brisa acredita que cada material tem uma forma de auto-organização e busca estar atenta a isso. Neste processo, o corpo desempenha uma função importante, uma vez que as obras refletem a combinação entre as particularidades como tamanho, dureza, suavidade, cores e tempo desses materiais e de seu próprio corpo. Assim, com intenção de preservar a elementaridade dos gestos, são encontradas soluções técnicas simples, utilizando principalmente porcelana branca sem esmalte e esquemas como encaixe, arranjo lado a lado e empilhamento. A partir de regras e objetivos estabelecidos na rotina do ateliê, a artista reflete ainda sobre a delicadeza inerente ao trabalho e que está acima de todos os níveis de ordem. Sua individual "Os ossos do mundo" foi realizada na Sé, em 2021-2022.

This set of works, more directly the paintings, has as a starting point an interest of the artist for observations of microscopy processes; they are a reflection of how the "typical" image of the microscope is present in our imagination and in different scales in nature. During her master's research, Brisa worked with Prof. Caetano Miranda, a researcher at the Physics Institute of the University of São Paulo. In the process, she learned that microscopic images from techniques such as Scanning Electron Microscopy (SEM), Transmission Electron Microscopy (TEM), and Energy Dispersive X-ray Spectroscopy (EDXA) are, in fact, indirect. That is, the minuscule structures that we visualize are impossible to see with the eye because there is no optical resolution for this. Therefore, the images are formed indirectly, from the mirroring of the electron beam by the surface of the sample, in the case of the SEM, or X-ray mirroring, in the case of EDXA; resulting in a map that makes it possible to observe how the chemical elements are found in the analyzed sample. This discovery made her wonder if these images were not in fact abstract systems of representation, in which the result is somehow already pre-defined when the rules of this logic of data interpretation are defined, questioning what we understand and believe to be the truth/reality versus what we understand as imagination/fiction — however, according to science, these images are not abstract schemes.

From these wanderings also come the porcelain “theaters”, the sculptures, and the installation, which she makes from the friction between references from the real and imaginary worlds. The installation and sculptures in the “Linhas de animação” series appear from the desire to bring the drawing line to sculpture, to experiment with brass wire as the dynamic line that structures the work. By incorporating brass wire, Brisa brings an element of freedom and movement, reminiscent of looser drawings. The shapes of the sculptures are also related to other themes of interest to the artist, such as representations of nutrition situations, cycles of life and death, and systemic organizations.

Brisa Noronha (Belo Horizonte, 1990) lives and works in São Paulo. Currently pursuing a master's degree in Visual Poetics at Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP). She holds a BA in Social Communication from PUC São Paulo (2015) and in Visual Arts from Faculdade Santa Marcelina (2015). In 2017, she received a scholarship from Freedom to create, a program from the Arteles artistic residency, in Finland. In 2015 she was awarded the 22nd Salao de Artes Plásticas de Praia Grande, São Paulo. Her work consists of installations, paintings, videos, and photographs in which the artist experimentally researches different materials and possibilities of arranging and ordering produced and collected objects. Brisa believes that each material has a form of self-organization and seeks to be aware of this. In this process, the body plays an important role, since the works reflect the combination of particularities such as size, hardness, smoothness, colors, and time of these materials and of her own body. Thus, with the intention of preserving the elementary nature of the gestures, simple technical solutions are found, using mainly white porcelain without enamel and schemes such as fitting, side-by-side arrangement, and stacking. Based on rules and objectives established in the studio's routine, the artist also reflects on the delicacy inherent in the work and which is above all levels of order. Her solo show "Os ossos do mundo" was held at Sé, in 2021-2022.

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Maria Montero
Ephemera

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As obras da série "Ephemera" desaparecem quando desmontadas. Desenhos feitos diretamente na parede em lápis ou lã, eles findam ao encerramento da exposição. São trabalhos que não precisam de manutenção ou armazenagem e tem baixo custo de produção, estratégias conceituais para driblar as complexidades do fazer artístico tão familiares para a artista-galerista. Em um dos quartos, “Eu não morri I e II” desdobra-se de experimentos anteriores em que a artista se utiliza do que está a mão: o próprio corpo, a câmera do celular, projetor, lápis e gestos rápidos. Diferente dos movimentos anteriores, aparecem dessa vez carregados de expressividade, transpirando as dores da pele e o luto do pai. Feito nas poucas “horas-vagas”, é um trabalho em processo constante. “Costurando memória” toma emprestado o título da canção de Steve Wonder e é apresentado onde o pai da artista fez sua passagem. Essa é a música que Fausto colocava pensando na filha e a última que dançaram juntos. São gestos de passagem e transição. Da casa, do corpo e do feminino que se reinventa.

Maria Montero (São Paulo, 1974) vive e trabalha em São Paulo. Em sua prática artística, Maria explora as relações entre seus ofícios, o de artista e de galerista. Seus trabalhos direcionam questionamentos de ordem tanto poética quanto prosaica: questões básicas de sobrevivência e de atuação no campo da arte. Através de objetos, desenhos, instalações, vídeos e apropriações, propõe um espaço para a metalinguagem, debruçando-se sobre a própria arte para fazê-lo. Fundadora do espaço experimental de residência artística Phosphorus (2011-2014), em imóvel localizado na primeira rua de São Paulo, Maria fundou em 2014, no mesmo local, a Sé, uma artist run gallery formada por um time de artistas com sólida trajetória artística e acadêmica e que, em sua maioria, adentraram o mercado de arte através da galeria. Hoje a Sé galeria funciona em uma casa na Vila Modernista de Flávio de Carvalho, também em São Paulo. Em seu trabalho como galerista busca realizar o acompanhamento dos artistas que representa, propondo projetos de exposições que privilegiem o pensamento crítico, conceitual e experimental. É através da intimidade com os artistas e suas obras que delineia os contornos de sua atuação. Maria cursou Art Psychotherapy na Goldsmiths College, em Londres (1998), e é graduada (2020) em Arte: História, Crítica e Curadoria pela Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Realizou as individuais "Sobrevivência dos vagalumes” (Sé, 2017) e “8 movements” (Simon Preston Gallery, Nova York, 2019); participou das coletivas "Mulheres na Coleção do MAR" (Museu de Arte do Rio, 2018) e "Tridimensional: Entre o sagrado e o estético" (Arte132 Galeria, São Paulo, 2023).

The works from the "Ephemera" series disappear when disassembled. Drawings made directly on the wall in pencil or wool that end when the exhibition closes. They are works that do not require maintenance or storage and have low production costs; conceptual strategies to circumvent the complexities of art-making that are so familiar to the artist-gallerist. In one of the rooms, “Eu não morri I e II” unfolds from previous experiments in which the artist uses whatever is at hand: her own body, the cell phone camera, projector, pencil, and quick gestures. Different from the previous movements, this time they are loaded with expressiveness, exuding skin pain, and her father's mourning. Made in the few "spare hours", it is a work in constant process. “Costurando memória” borrows the title from Steve Wonder's song and is presented where the artist's father made his passage. This is the song Fausto put on thinking about his daughter and the last one they danced together. These are gestures of passage and transition. From the house, the body, and the feminine that reinvents itself.

Maria Montero (São Paulo, 1974) lives and works in São Paulo. In her artistic practice, Maria explores the relationships between her trades, that of artist and gallery owner. Her works address both poetic and prosaic questions: basic questions of survival and of acting in the art field. Through objects, drawings, installations, videos, and appropriations, she proposes a space for metalanguage, leaning over art itself to do so. Founder of the experimental artist residency space Phosphorus (2011-2014), in a property located on the first street of São Paulo, Maria founded in 2014, in the same location, Sé, an artist-run gallery formed by a group of artists with solid artistic and academic careers, and who, for the most part, entered the art market through the gallery. Today Sé operates in a house at Flávio de Carvalho's Vila Modernista, also in São Paulo. In her work as a gallerist, she seeks to follow up with the artists she represents, proposing exhibition projects that favor critical, conceptual, and experimental thinking. It is through intimacy with the artists and their works that he outlines the contours of her work. Maria studied Art Psychotherapy at Goldsmiths College, London (1998), and graduated (2020) in Art: History, Criticism, and Curatorship at Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). She held the solo exhibitions "Sobrevivência dos vagalumes" (Sé, 2017) and "8 movements" (Simon Preston Gallery, New York, 2019); she participated in the group shows "Mulheres na Coleção do MAR" (Museu de Arte do Rio, 2018) and "Tridimensional: Entre o sagrado e o estético" (Arte132 Galeria, São Paulo, 2023).