Daniel Fagus Kairoz

Sopro

A coreografia, tecnologia de biopoder criada no contexto da expansão do racionalismo e do colonialismo no ocidente, pode hoje, nos permitir uma abertura para as dimensões cosmopolíticas da vida, uma retomada das concepções mágicas e encantadas da realidade.

Daniel Fagus Kairoz

 

A exposição Sopro reúne uma série de trabalhos recentes que dão continuidade à pesquisa de Daniel Fagus Kairoz sobre as implicações da coreografia. O artista está interessado em múltiplos desdobramentos do pensamento coreográfico, em suas manifestações sociais, linguísticas, arquitetônicas, filosóficas e políticas, além de sua relação com a escritura. Para a mostra, algumas obras serão produzidas in-situ na galeria. Durante o processo, colaboradores do artista serão convidados para uma interlocução de movimentos e ideias. Kairoz promove assim gestos individuais e coletivos que incidem diretamente sobre o espaço, coreografando os materiais através dele e fazendo da própria exposição uma grande obra em movimento. A abertura da mostra, que tem curadoria de Leo Felipe, acontecerá no dia 22 de novembro.

 

Nos novos trabalhos, o artista faz uso da argila como matéria principal. Ao utilizar o suporte primeiro da escritura, refaz um percurso em que a dança acontece na própria inscrição, independente da realização do corpo. Sabemos que placas de argila estão relacionadas à maioria dos resquícios arqueológicos mais antigos de uma escritura. O barro é também um material que, em diversas tradições, participa da própria elaboração da forma humana. É a substância primeira que nos dá forma e nos possibilita existir no mundo material. Kairoz procura criar marcas, grafismos e grafemas, e o que deriva disso até chegar na escrita fonética, em uma relação direta com a elaboração da forma humana, comum a diversas culturas entrecruzadas em sua trajetória pessoal e artística. 

 

Há ainda um grupo de partituras com tratamento pictórico, que através de marcas gráficas, convidam o corpo a dançar nas encruzilhadas. O corpo do artista também é colocado no espaço expositivo através de uma série de ações, vídeos e um conjunto de fotografias desvelam outras camadas do seu pensamento e prática coreográfica. Ganham destaque as mãos, que tanto moldam o barro quanto servem de suporte para uma escrita sutil que torna coreográfica a estrutura do corpo.

 

Em diálogo com o filósofo francês Jacques Derrida, a filosofia bantu, presente nos terreiros de umbanda e candomblé dos quais participa, e o taoísmo, Daniel Fagus Kairoz concebe a coreografia como uma estrutura em relação de jogo permanente entre seus elementos, tendo no movimento, o principal componente estruturante. "O movimento produz um traço, um rastro que já se faz também coreografia, inscrição de movimento, sendo por si uma proposição coreográfica", ele explica. "É um gesto que leva a outro e a outro e a outro, e assim por diante, em um jogo incessante de inscrição e rastro". Além disso, Sopro é um exercício para se pensar o lugar da dança dentro dos espaços institucionais das artes visuais.

 

Serviço

Daniel Fagus Kairoz: Sopro

Curadoria: Leo Felipe

Abertura: 22 de novembro, terça, 17-21h

Visitação gratuita até 17 de dezembro

Terça a sexta, 12-19h

Sábado, 12-17h 

Rua: Al. Lorena, 1257 , Vila Modernista - Casa 2

Jardim Paulista

São Paulo / CEP 01424-001

tel+ (11) 3107-7047