Exposição coletiva

Papel aceita tudo

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A exposição coletiva Papel aceita tudo se organiza a partir do acervo de desenhos da Sé, extrapolando-o, ao incluir obras inéditas de artistas representados ou não pela galeria e ao incorporar o desenho a colagens, impressões, esculturas e objetos que têm o papel como suporte ou material. Participam da mostra Arnaldo de Melo, Carlos Issa, davi de jesus do nascimento, Denise Alves-Rodrigues, Edu de Barros, João Loureiro, Manata Laudares, Maria Montero, Michel Zózimo, Pontogor, Tadáskía, Traplev, além de David Cevallos, Kauam Pereira e Marina Borges. A curadoria é de Leo Felipe. Visitação gratuita até 29 de outubro.

A exposição toma seu título de um provérbio popular que advoga ceticismo em relação ao que é narrado. Se, por um lado, vivemos imersos em um ambiente em que notícias falsas moldam a própria factualidade, por outro, cabe também à ficção nos fazer vislumbrar possibilidades de mundos que não este. Neste conjunto de obras, imaginação política para as novas formas do amor (e da luta), rebeldia juvenil, viagens planetárias no espaço da mente, metodologias incomuns, liturgias contemporâneas e senso de humor pretendem estimular a reconexão da vontade com a realidade.

João Loureiro apresenta um conjunto de desenhos e a escultura inédita Monstro (2022), uma estrutura de metal de 2 metros de altura coberta por um saco de papelão gigante, que remete à máscara de um bandido de cartum ou à figura cômica do fantasminha que costuma aparecer em suas criações.

Interessada em metodologias não convencionais e na criação de aparelhos e mecanismos que investiguem eventos ordinários ou sobrenaturais, Denise Alves-Rodrigues apresenta a série inédita Artefato sem fim (2021-2022) que trata da intoxicação de informações a que somos submetidos diariamente. Ela explica: "Em minhas produções recentes tenho pesquisado formas de depuração de signos e ícones de nossa infoxicação". O conceito foi concebido pelo físico espanhol Alfons Cornella para designar a situação em que uma pessoa tenta receber e analisar um número de informações muito maior que o seu organismo é capaz de processar. Abordagens sobre sistemas podem ser percebidas também nas colagens de Carlos Issa, produzidas em 2013, ainda que as obras explorem um modo de organização que se aproxima da entropia. Ficcionais ou não, as cosmologias são investigadas nos desenhos de Tadáskía e nas esculturas em papel maché do equatoriano David Cevallos. Juntamente com Kauam Pereira e Marina Borges, Cevallos participa como artista convidado. Seus Cropólitos (2022) foram produzidos em recente residência artística no Pivô e fazem lembrar oferendas que tratam do sonho e da morte.

Arnaldo de Melo participa da mostra trazendo uma vertente ainda não vista de sua produção. Os novos trabalhos foram criados em casa, no período de quarentena da pandemia. Usando embalagens descartadas e desinfectadas, o artista realizou interferências precisas de modo a evidenciar o corte e o vinco dos moldes específicos de cada embalagem. "Essa produção com caixas de papel-cartão resgata operações anteriormente por mim elaboradas, como as monotipias simétricas obtidas a partir da pressão por dobras que lembram as figuras de Rorschach", ele explica. Alguns trabalhos fazem surgir figuras antropomorfizadas, eretas, estáticas. O antropozoormorfismo está presente ainda nos derranhos das carrancas do Rio São Francisco, da série gritos de alerta (2019-2022), de davi de jesus do nascimento, no Ratão (2022) punk de Marina Borges e nos desenhos de Sex Sci-Fi (2022), de Kauam Pereira. Como retiradas de um desenho animado, as imagens criadas por Pereira retratam uma orgia retro futurista nas estrelas e visam a construção de um alfabeto visual que pode ser reorganizado para produzir o que o artista chama de discursos abertos sobre a sexualidade. O sexo reaparece como assunto nas fotografias de Maria Montero. Os benjamins (2011) é um tipo de jogo visual bem humorado em que conectores de tomadas - também conhecidos como benjamins - protagonizam uma cena inesperadamente erótica.

Já Traplev apresenta obra da série inédita arma teórica, crítica e conceitual (2022). Na série, o artista se apropriou de capas das publicações de duas organizações clandestinas, Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8), que lutaram contra a ditadura civil-militar no Brasil (1964-85). Trazidas para o contexto da arte, as “metáforas conceituais” do título das publicações evidenciam a pesquisa histórica como princípio da luta por democracia, educação crítica e justiça social, nos desafiando ainda a imaginar soluções políticas para um mundo em convulsão.

Curadoria: Leo Felipe

Artistas participantes: Arnaldo de Melo, Carlos Issa, davi de jesus do nascimento, David Cevallos, Denise Alves-Rodrigues, Edu de Barros, João Loureiro, Kauam Pereira, Manata Laudares, Maria Montero, Marina Borges, Michel Zózimo, Pontogor, Tadáskía e Traplev

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