Rebecca Sharp

Terrestres

Rebecca Sharp começou a pintar ao ar livre em 2019. Primeiro, em andanças pelas Montanhas Rochosas, nos arredores da cidade onde vive, Boulder, no Colorado, mas também em outras regiões dos Estados Unidos (Montana, Wyoming, Novo México, Havaí) e do Brasil (Ponta Negra, no litoral do Rio de Janeiro, e Ibiúna, no interior paulista). A artista escolhe um determinado local, onde pode observar o entorno, mas também deixar-se ser observada por ele. Assim, experimenta um tipo de simbiose na qual antropomorfiza os elementos naturais, ao mesmo tempo que é tomada pelas formas da natureza, tornando-se um pouco montanha, árvore, riacho.

No cerne da experiência, há a intenção de demonstrar a indissociabilidade entre natureza e cultura, separadas artificialmente pela racionalidade humana. Ela explica: "Podemos nos relacionar com a natureza de maneiras que esquecemos ou que ainda nem conseguimos imaginar. Uma floresta, um rio, uma rocha, são estruturas totalmente dinâmicas, poliamorosas, híbridas, multissexuais, generosas, não binárias e sábias, a ponto de colocar em xeque nossa compreensão superficial sobre seu inesgotável potencial de vida. Somos natureza".

Outra mudança nos trabalhos é a escala diminuta e o acabamento brilhoso, resultante da aplicação de uma camada de verniz sobre a tinta à óleo. Os procedimentos convocam quem observa a deter-se atentamente sobre a superfície das telas, descobrindo, aos poucos, seus delicados mistérios. Vegetação, formações rochosas e cursos d'água protagonizam as cenas retratadas pela artista, que explora a personalidade particular de cada elemento.

Uma obra emblemática da série é Grand Tetons (2022). Medindo 12x12,5cm, a pintura apresenta uma paisagem do Parque Nacional de Grand Teton, no estado do Wyoming, no oeste norte-americano, que, contudo, é marcada pelo toque surrealista da artista: um rio de águas agitadas escorre desde um grupo de montanhas semelhantes a grandes vaginas; ao fundo, um céu em tons rosados exibe dois corpos celestes, lado a lado.

A pintura ao ar livre possibilita à artista explorar, além de espaços, temporalidades incomuns em sua prática. É um tempo não-funcional, que lhe dá acesso a um entendimento que não requer a linguagem inventada pelos homens, uma comunicação interespécies de intuição e sussurros híbridos. Experimentando essa sensação como uma viagem no tempo, Sharp vivencia uma recalibração das funções vitais (respiração, batimentos cardíacos etc.) que a põe em uma uma sintonia especial, onde imagens e informações passam pelo corpo antes da consciência.

 

Serviço

Rebecca Sharp: Terrestres

Abertura: sábado, 28 de janeiro, 12-17h

Visitação até 04 de março

Terça a sexta, 12-19h

Sábado, 12-17h

Rua: Al. Lorena, 1257 , Vila Modernista - Casa 2

Jardim Paulista

São Paulo / CEP 01424-001

tel+ (11) 3107-7047